Logística reversa pode parecer só uma logística “ao contrário”, mas existem diversas particularidades que a diferenciam do convencional.
Além disso, existem leis que devem ser cumpridas e uma preocupação com a lucratividade e sustentabilidade desse processo logístico.
Descubra neste artigo os conceitos da Logística Reversa para saber como ela funciona em uma empresa. Veja também os impactos econômicos do retorno de produtos e materiais e o que pode ser feito para reduzi-los.
Agora, continue a leitura e saiba o que é logística reversa: as atividades, conceitos, dificuldades e legislação!
O que é Logística Reversa?
O termo “reverso” já dá uma dica: é a rota contrária da logística convencional. Ou seja, é o transporte dos produtos nas mãos dos clientes de volta para a empresa.
“O processo de planejar, implementar e controlar de forma eficiente e rentável: o fluxo de matérias-primas, estoque em processo, produtos acabados e informações relacionadas desde o ponto de consumo até o ponto de origem com o propósito de recaptura, geração de valor ou descarte adequado.”- Rogers e Tibben-Lembke, 1999 (tradução nossa).
Definição de logística reversa
A logística reversa é um conceito que ganhou força com a criação da Política Nacional de Resíduos Sólidos em 2010.
A norma, que alterou a Lei nº 9.605, busca responsabilizar fabricantes, importantes distribuidores e comércio pelo ciclo de vida de um produto – que envolve desde a produção até o recolhimento das embalagens ou resíduos que restaram deste item comprado.
Em relação ao significado deste conceito, a legislação diz:
XII - logística reversa: instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada.
Para que a logística reversa seja aplicada, é definido um conjunto de ações para coletar os produtos utilizados pelos consumidores de forma rápida e ágil. O objetivo é recolher materiais para dar o destino correto, mesmo que eles não sejam itens recicláveis.
Logística reversa e logística tradicional
Na logística tradicional, existem duas figuras principais: quem fabrica e quem transporta. É responsabilidade de ambas as partes trazer eficiência aos projetos, seja através de tecnologias ou treinamento dos profissionais envolvidos.
Já na logística reversa, é essencial que todas as partes da sociedade se envolvam: poder público, fabricantes, transportadores e, principalmente, os consumidores finais. Afinal, como recolher algo que não foi separado corretamente?
Quais são as atividades da Logística Reversa?
A logística reversa inclui as seguintes atividades no seu fluxo:
- aterro sanitário;
- doação;
- processamento das devoluções;
- reciclagem;
- reembalagem;
- remanufatura;
- revenda;
- revitalização;
- salvamento (recuperação de cargas roubadas ou perdidas).
Qual é o impacto econômico da Logística Reversa?
No Brasil, estima-se que cerca de 5% dos custos logísticos sejam destinados à logística reversa. Já nos EUA, o índice é levemente menor e chega a 4% dos custos.
De acordo com o Business Insider, em torno de 25 - 30% das vendas de e-commerce são devolvidas. Para as lojas físicas, essa taxa de devolução cai para 9%.
Para se ter ideia, isso significa que nos EUA em 2017, o valor “devolvido” pelos clientes no e-commerce foi de $143 bilhões!
Embora isso pode parecer à primeira vista um custo desastroso, uma política de devoluções eficiente gera lucros: 92% dos consumidores falam que preferem marcas que permitem devoluções sem estresse.
Por outro lado, existem empresas que dependem de uma logística reversa eficiente para funcionarem. Por exemplo, na indústria automobilística dos EUA, em torno de 90 - 95% dos arranques e alternadores substitutos vem da logística reversa.
Existem cerca de 12 mil empresas que operam no país exclusivamente vendendo peças de automóvel remanufaturadas.
Anualmente, o Brasil produz uma quantidade gigantesca de lixo, que conseguiria cobrir 206 estádios do Morumbi.
Segundo o jornal Correio 24 horas, o país é responsável por gerar 79,9 milhões de toneladas de resíduos sólidos por ano. Infelizmente, somente 3% deste total é reciclado.
Do ponto de vista financeiro, o Brasil está perdendo dinheiro. Quando destinado corretamente, os materiais reciclados poderiam gerar R$ 8 bilhões de reais anualmente.
Para a indústria, receber embalagens e determinados produtos usados de volta poderia diminuir a necessidade de matéria-prima.
Para as transportadoras, este é um nicho de mercado que deve ser explorado para gerar novos negócios e, ao mesmo tempo, auxiliar na preservação do meio ambiente
Quais são os conceitos de Logística Reversa segundo especialistas?
De acordo com Rogers e Tibben-Lembke (2001), no decorrer do tempo a visão sobre a logística reversa foi alterada.
Veja os conceitos abaixo:
Conceitos sobre logística reversa dos anos 80
A maioria dos autores desse período enxergavam o processo apenas como uma logística “ao contrário”, o que pode ser evidenciado nas citações a seguir:
“(Logística Reversa) é ir na contramão numa rua de sentido único, pois a maioria das entregas flui em apenas uma direção.”- Lambert e Stock, 1981 (tradução nossa)
“(Logística Reversa) é a movimentação de bens do consumidor até o fornecedor em um canal de distribuição.”- Murphy e Poist, 1989 (tradução nossa)
Conceitos sobre logística reversa dos anos 90
O meio ambiente entra como uma preocupação-chave nos conceitos dos autores e a sustentabilidade passa a ser um dos focos da Logística Reversa:
“(A Logística Reversa) é a função da logística responsável pelo retorno dos produtos, redução na fonte, reciclagem, substituição dos materiais, reutilização dos materiais, eliminação de resíduos, revitalização, reparação e refabricação.”- Stock, 1998 (tradução nossa).
“(A Logística Reversa é) um processo pela qual empresas podem se tornar mais eficientes ambientalmente por meio da reciclagem, reutilização e redução na quantidade de materiais utilizados.”- Carter e Ellram, 1998 (tradução nossa).
Logística Verde
Embora a Logística Reversa e a Logística Verde se unem em diversos pontos, existem diferenças entre ambos. A “Logística Reversa” nem sempre prioriza o meio ambiente, assim como existem técnicas de “Logística Verde” que não fazem parte da “reversa”.
Vale lembrar que no Brasil existe legislação sobre a logística reversa que determina a preservação do meio ambiente como um objetivo principal. Isso não é realidade, porém em outros lugares do mundo, como o EUA, por exemplo.
- Logística Reversa: coleta de bens em pontos de consumo e transporte até a empresa;
- Logística Verde: procedimentos de logística que visam a preservação do meio ambiente, que incluem desde a embalagem até o modal de transporte utilizado.
Confira no diagrama as semelhanças e diferenças entre logística reversa e verde:
Diagrama com atribuições da Logística Reversa e Verde. Fonte: Rogers e Tibben-Lembke (2001)
Logística do Pós-consumo
De acordo com Mueller (2005), a Logística de Pós-consumo é aquela que prioriza o retorno dos produtos após serem utilizados pelos clientes, visando a reciclagem, reutilização ou descarte apropriado.
O nome “pós-consumo” vem justamente desse enfoque sobre o que acontece após o uso do produto pelos clientes.
O motivo que levou à criação desse conceito foi o aumento na quantidade de materiais descartados pela humanidade desde o século XX até hoje.
Em 1960, a produção de plástico no mundo era de 6 milhões de toneladas. Já no ano 2000 isso saltou para 120 milhões de toneladas.
No Brasil, a cidade de São Paulo gerava 4450 toneladas de lixo por dia no ano de 1985. Em 2000 isso subiu para 16 mil toneladas!
Segundo Mueller (2005), as novas tecnologias aumentaram o poder de consumo ao baratear o custo de criação dos produtos, mas também diminuíram o ciclo de vida dos mesmos.
Isso significa que o nível de descarte cresceu drasticamente, o que afeta a integridade do meio ambiente e a gestão de lixo nas cidades.
Um produto pode ter 3 destinos após sua inutilização pelo cliente final:
- Descarte em local seguro (aterro sanitário);
- Descarte em local não seguro (a própria natureza);
- Voltar para a empresa (cadeia de distribuição reversa);
Confira o fluxograma a seguir:
Fluxograma da Logística Reversa do Pós-consumo. Fonte: Mueller (2005)
A “distribuição reversa” seria a logística reversa nesse fluxo, que já vem sendo adotado por algumas empresas de bebidas.
Hoje em dia é comum ver em supermercados pontos para clientes depositarem garrafas de cerveja, que são posteriormente coletadas e reutilizadas pela empresa para vender novas bebidas.
Produtos tóxicos para o meio ambiente, como pilhas, baterias e materiais de uso laboratorial também devem passar pela “distribuição reversa”.
Esses produtos possuem compostos químicos que podem ser letais para a fauna e flora e até os próprios seres humanos caso sejam descartados inapropriadamente.
Existe também lucratividade na logística reversa: equipamentos eletrônicos possuem minérios valiosos, como cobre, prata e ouro que podem ser coletados por uma empresa especializada e vendidos para o fabricante reutilizar em novos produtos.